8 de janeiro de 2016

Great Ocean Road




 É a estrada mais famosa da Australia e não podia deixar de a percorrer. Foi construída depois da Primeira Grande Guerra por combatentes que regressaram ao país. O governo não tinha verba disponível para a construir e foi um grupo de privados que se juntou para angariar fundos que depois receberam através de uma portagem cobrada durante vários anos. A estrada tem mais de 200 Km de extensão, a maior parte deles junto ao oceano mas tem também um troço através da floresta onde a paisagem se mantém espetacular.
Começa em Torquay, a 100 Km de Melbourne, que é considerada a capital do surf na Australia. É ali perto que se encontra Bells Beach, onde decorre a etapa australiana do campeonato do Mundo. A vila tem um ambiente totalmente voltado para o surf, com enormes lojas dos principais fabricantes de material para a modalidade e até um museu do Surf, que fui visitar e onde contam a história do surf com fotografias e pranchas das várias épocas.
Estava um dia lindo, o que não é muito comum por aquelas bandas e aproveitei o bom tempo para percorrer boa parte da estrada nesse dia, com troços mais sinuosos a darem imenso gozo. Fui parando aqui e ali para visitar os principais pontos de vista e uma ou outra praia. Fotografei o que chamam os doze apóstolos, um grupo de rochas que o mar foi lapidando, criando pequenas ilhas, altas e estreitas com formas que fazem lembrar caras de pessoas.
Uma outra, que batizaram como London Bridge era uma pequena península formando uma ponte com o mar a passar por baixo mas, há uns anos, quando dois turistas tinham passado para a ponta da península, a ponte abateu, passando a ilha, com o assustado casal a ter que ser socorrido de helicóptero.
Para aproveitar aquele dia lindo acabei por circular até às sete da tarde pois aqui no Sul, nesta altura do ano, é dia até perto das nove. Depois de ter parado num primeiro parque de campismo, muito básico, andei mais um pouco e fui ficar a outro, poucas dezenas de quilómetros à frente.
O responsável do “camping”, quando lhe disse que era português, contou-me que tinha estado em Peniche e Ericeira, nos anos 80, para surfar. Ficou com a recordação de estarem a acampar na praia e vir um grupo de pescadores, apanharem percebes, cozerem-nos ali numa fogueira e jantarem com eles ao luar.
Perguntei-lhe se o sol se iria manter para o dia seguinte e ele disse-me que era pouco provável. “aqui muda de um momento para o outro” e pouco depois veio apontar umas nuvens escuras a aproximarem-se.
Acordei pelas seis e meia e, passada uma hora, depois de tomar um duche, estava a tomar o pequeno almoço numas mesas ao ar livre quando caiu uma enorme carga de água. Recolhi-me debaixo do telheiro e, meia hora depois, surgiram dois miúdos, dos seus vinte e poucos anos, por quem tinha passado no dia anterior estando eles também de moto, encharcados que nem uns pintos, a tremerem de frio. A tenda deles deixava passar água e tinham levado com o forte da intempérie. Regelados mas divertidos com a situação lá transformaram uns sacos de plástico grandes em blusões para a chuva e arrancaram. Tinham vindo de Melbourne para percorrer a estrada, regressavam nesse dia e não vinham preparados para a chuva.

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